...editora fenda... fenda edições, 30 anos no arame

Eduardo Dâmaso ~ A Invasão Spinolista


capa de João Bicker
sobre pormenor de fotografia de Alfredo Cunha
Fenda, 1999
[2000 ex]


Porque a história, seja ela qual for, grande ou pequena, de um homem ou de um país, não deixa de ser a expressão de uma luta da memória contra o esquecimento, é importante contá-la. É a melhor maneira de preservar os traços caracterizadores da identidade de um povo. Contar as suas histórias é o instrumento ideal de combate a um atávico sonambulismo que marca a relação dos Portugueses com a história contemporânea de Portugal, um país onde a criação, seja ela literária, cinematográfica ou o próprio jornalismo, quase só esporadicamente se aventura nos meandros do passado.
Mas a essa espécie de alheamento colectivo também não é indiferente o manto de silêncio que envolve alguns dos episódios mais marcantes da vida nacional, depois da revolução de 1974. Há testemunhos que não se recolheram nem se sabe se alguma vez será possível obtê-los. Quantos anos terão de passar ainda para que as estórias da história se possam contar de alma limpa e aberta ao futuro? Quantos anos terão de passar para que os mistérios que permanecem sofram a natural erosão do tempo? Que país é este que deixa os pedaços dessa história ao sabor de cobiças ou temores privados, consentindo que os melhores repositórios e tempos que merecem uma catarse colectiva ou uma expiação de complexos de potência colonial - ou nem uma coisa nem outra, tão-só ser contados às gerações vindouras - sejam inutilmente perdidos ou devassados sem critério?