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Klaus Wagenbach ~ A Praga de Franz Kafka


"um livro de leitura e viagem"
tradução de Lumir Nahodil
capa de João Bicker/FBA
Fenda, 2001


O casamento e a fundação do negócio dos pais coincidiram no tempo (1882) e no local: na mesma casa do lado norte da Praça da Cidade Velha onde foram celebradas as bodas (Hotel Goldhammer), Hermann Kafka fundou o seu comércio de galantaria, de início em regime de venda a retalho e como 'loja de rua'. Dessa casa só chegou até nós um quadro (v.p.74). Logo em 1887 a loja mudou-se para um local da vizinhança igualmente vantajoso, a casa dos Reis Magos, onde se manteve até 1906. Era portanto ali que o filho podia assistir às saídas do pai, muito antes de a famíla também viver nessa casa:

A loja. Em princípio, ela deveria ter-me dado alegria, especialmente na minha infância, enquanto foi um negócio de rua. Era tão viva, iluminada à noite, viam-se e ouviam-se tantas coisas, podia-se ajudar com aplicação nisto e naquilo, mas sobretudo admirar-te pelos teus magníficos talentos comerciais... No entanto ouvia-te gritar, ralhar e bramir de tal modo que, segundo a minha opinião daquele tempo, não havia no mundo inteiro nada de semelhante. E não te limitavas a ralhar, mostravas ainda outras formas de tirania. Quando, por exemplo, varrias do balcão, com um gesto brusco, mercadorias que não querias que se confundissem com outras... Ou aquela frase que não te cansavas de repetir, relativamente a um caixeiro doente dos pulmões: 'Que estique o pernil, esse cão doente'. Dizias que os teus empregados eram os teus 'inimigos pagos', e eram isso mesmo, mas antes ainda de se o terem tornado, tu parecias ser inimigo deles, o 'inimigo pagante'.