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Fernando Pessoa ~ Antinoo













tradução de Luís Nogueira
Fenda, 1988

(...)

Antinoo está morto, morto para sempre,
Está morto para sempre e todos os amores lamentam.
A mesma Vénus, que de Adónis foi amante,
Ao vê-lo redivivo então, e de novo morto agora
Oferece o renovo de seus antigos soluços: que somados sejam
Ao sofrimento de Adriano.

Apolo está triste: o ladrão
Do seu corpo branco arrefeceu para sempre.
Nem pacientes beijos na rosa do mamilo
Sobre o sítio mudo do bater do coração, lhe devolvem
A vida para abrir-lhe os olhos, fazer que sinta a sua
Presença no correr das veias, firme fortaleza do Amor.
Nenhum calor ficou de outras suas calorosas exigências.
Não voltará a ter sob a cabeça as mãos,
Do oferecido corpo que outras mãos imploram.

A chuva cai; ele está deitado como alguém
Que esqueceu todos os gestos do seu amor
E fica deitado à espera do seu cálido regresso.
Mas todas as suas artes e jogos estão agora com a morte.
Nenhum calor pode demover este humano gelo;
Nenhuma chama pode acender estas cinzas de um fogo.

(...)